quarta-feira, 29 de junho de 2011

Minhas Crianças - By JAZ

Gabriel havia brincado com seus primos o dia todo. Dissera várias vezes que não queria que o dia acabasse, e seus pais diziam "outro dia eles voltam para vocês brincarem, Gabriel". Mas não era exatamente isso que Gabriel queria dizer.
Sete horas da noite, hora de ir para a cama. Sua irmã Eliane, de nove anos, estava na casa de seus avós, e os pais de Gabriel foram buscá-la. O garoto de apenas onze anos, escovou rapidamente seus dentes e vestiu seu pijama, enfiando-se em baixo das cobertas e cobrindo-se até a cabeça. Fazia muito calor naquela época; era verão. Mas Gabriel nem se importava. Ele estava mesmo preocupado com o pressentimento que ele estava tendo desde a manhã daquele dia. Os sinos da igreja ali perto começaram a tocar, avisando que já se passaram meia hora desde as sete. Gabriel permanecia encolhido em baixo das cobertas. Não era possível que seus pais fossem demorar tanto assim. Foi quando ele ouviu alguns passos, e sentiu que alguém estava ali no quarto. "Ótimo" pensou, aliviado.
 - Mamãe? Papai? Eli? - perguntou. Permaneceu com a cabeça coberta, esperando uma resposta. Nada. - Mamãe? - perguntou mais uma vez. Novamente...  nenhuma resposta. Os passos haviam parado, mas a ele continuava a sentir que havia mais alguém além dele. Depois de um tempo, sentindo um calafrio
iniciando em seus pés e seguindo até a nuca, resolveu olhar por cima da coberta.
Afastou um pouco, de modo que pudesse ver o lado da cama de casal em que sua irmã dormia. Nada. Ergueu um pouco mais a coberta. Aquele lado do quarto estava limpo. Então, resolveu olhar nos pés da cama. A moça que ali se encontrava usava um vestido branco comprido, cabelos negros caindo por sobre os ombros e um véu cobrindo seu rosto da cabeça até o lábio superior. Nos lábios, ela continha um grande sorriso. Gabriel sentiu seu corpo paralisar; o garoto ficou ali, imóvel, enquanto a mulher ajoelhava-se aos
pés da sua cama.


- O-o que... o que... o que você quer? - ele gaguejou, tremendo.
 A moça não disse nada, apenas permaneceu sorrindo.


De repente, ela sumiu. Gabriel ficou ali, parado, olhando para o quarto escuro, até que sua mãe acendeu a luz.
- Eu mandei você ir dormir, Gabriel - ela disse, severa.
- Mas mãe! Tinha uma moça aqui...
- Pare de inventar histórias, garoto! - ela gritou com ele, interrompendo-o. Ele deitou-se novamente e, depois de um tempo, adormeceu.
 A mulher passeava pelos sonhos de Gabriel quase todas as noites. No sonho, ela permanecia como no dia em que ele a viu: de branco, ajoelhada aos pés
da cama, com um véu branco cobrindo o rosto... e o sorriso amedrontador.
Volta e meia ele sonhava que ela se levantava e ajoelhava-se ao lado de sua cama, onde o corpo de sua irmã se encontrava. Eliane estava morta, em todos os sonhos. Os olhos da pequena garota não pertenciam mais a ela, e os dentes haviam sido arrancados. Gabriel, assustado, contou dos sonhos para seus pais, que não acreditaram no garoto e o fizeram dormir sozinho todas as noites para que ele aprendesse que isso era apenas imaginação.
Na terceira noite sozinho no quarto, Gabriel sentiu o calafrio que não sentia haviam duas semanas. Iniciou-se em seus pés, e foi lentamente seguindo até sua nuca.
Quando Gabriel olhou para o lado, lá estava ela.
Ela passava os dedos apodrecidos por todo o corpo do garoto, que estava sem reação. Hoje,  a mulher não usava mais o véu: Mostrava-se com a pele branca, suja de terra, algodão nas narinas, e sem os olhos. Mas apesar de tudo, o sorriso continuava em seu rosto. Ela continuou passando os dedos pelo corpo de Gabriel, que tentava gritar sem nenhum resultado. A voz tinha sumido de sua garganta. Após alguns minutos naquela tortura psicológica terrível, a mulher levantou delicadamente a coberta.
O menino ia cada vez mais rápido para o outro extremo da cama, seu corpo tremendo. Mas quanto mais ele recuava, mais ela avançava. Ele então viu que de nada adiantaria se afastar; parou, esperando a próxima ação da moça. Ela deitou-se ao lado dele, com as mãos sobre a barriga, como se estivesse em um caixão.
Virou o corpo para ele e puxou o garoto para mais perto. Envolveu-o num abraço gelado, cravou as unhas em seus costas e sussurrou em seu ouvido: "Eu preciso dos seus olhos, meu Gabriel".
No dia seguinte, os pais de Gabriel foram acordá-lo, afinal já estava na hora de ir para o colégio. Assim que entrou no quarto, a mãe do garoto soltou um grito de pavor. Gabriel encontrava-se na cama, deitado como se estivesse em um caixão, sem os olhos. Vestido de branco, carregava consigo um sorriso largo no rosto, os lábios roxos e dentes apodrecidos. Na escrivaninha ao lado da cama, um papel com os seguintes dizeres:



"Desculpe-me, mas eu precisava dos olhos do meu Gabriel. Voltarei mais tarde para buscar o que mais me pertence. Cuidem bem da minha Eliane".






                                                                                                                  Jaqueline A. Z.




Bons sonhos... 

Um comentário:

  1. Muito bom, estou acompanhando o blog, eu gosto muito de terror e tal, eu reparei ali mais acima a parceria com um fansite de silent hill, um dos meus jogos favoritos, parabens pelo otimo trabalho, e continue assim!

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